27 junho 2009

Incisivo quanto baste

Cavaco Silva, o presidente cauteloso que nada fala e tudo diz, abriu uma excepção sobre o caso PT/MEDIA-CAPITAL e falou. Pediu transparência sobre o negócio. Aliás é estranho como Cavaco Silva esteja "intoleravelmente" mudo sobre tantos assuntos (e polémicas que lhe são próximas) seja tão lesto a apontar esta trapalhada governativa.

No entanto, aconselho vivamente a lerem esta opinião do professor Gaspar Miranda Teixeira, exposto na edição deste mês jornal "O Basto", sobre o quão incisivo é o presidente da República:

Discurso Directo!

Por Gaspar Miranda Teixeira

Cavaco Silva, há-de ter, até ao final do mandato, oportunidade para ser mais incisivo.

No entanto, atitudes como a que teve numa visita ao Minho e perante meia centena de trabalhadores despedidos de fábricas de Barcelos e Esposende, dizendo-lhes que não tinha solução para os seus problemas, não ajudam nada.

Quando tal acontece, para bem das pessoas em Portugal, para bem do País, é melhor que fique dentro do Palácio de Belém, a entreter-se com a esposa, filhos e netos…

O Presidente da República tem revelado alguma sensibilidade para os problemas das pessoas, mas pode e deve ir mais além.

Somos o País com uma das mais baixas médias salariais, senão a mais baixa, na actualidade, da Europa Ocidental.

O Presidente deve efectuar um apelo sério e explícito às empresas e aos gestores para instituírem práticas salariais mais competitivas, que despertem a confiança dos trabalhadores e que contribuam para a sua motivação e consequente aumento de produtividade.

Por que são os portugueses altamente produtivos fora do País e cá dentro não?

Por que é que há 8 anos atrás um jovem recém-licenciado entrava no mercado de trabalho com um valor salarial na ordem dos 1000 a 1200 euros e agora começa com 700 a 900 euros e muitas vezes em situação precária de recibos verdes?

O Presidente tem de ser muito mais directo à questão do “Exemplo” em Portugal.

É que num País em que os gestores ganham salários ao mais alto nível da Europa e os seus colaboradores ganham salários ao mais baixo nível da Europa, algo está mal.

Como se pode aceitar que numa empresa um administrador possa ganhar 20000 euros de salário e um trabalhador administrativo apenas 600 euros.

Estamos a falar em 33 vezes mais, sem contar com prémios de gestão.

Isto não só é ultrajante como representa uma grande falta de dignidade, seriedade, no fundo uma total inexistência de integridade.

E já que falamos de integridade, porque não se refere o Presidente à inqualificável situação dos reformados em Portugal, tantos, com pouco mais de 250 euros mensais, num país em que há gente com reformas milionárias, adquiridas, nalguns casos, com apenas meia dúzia de anos de trabalho, e acumulação de reformas.

O Presidente tem falado no problema dos jovens à entrada do mercado de trabalho, mas esquece-se dos trabalhadores com mais de 40 anos, sem qualquer possibilidade, na maior parte dos casos, impedidos de retomar a sua carreira e muitos deles com qualificações de alto nível.

Não estaremos aqui perante um enorme desperdício de competências para o País?

Cavaco Silva, há-de ter, até ao final do mandato, oportunidade para ser mais incisivo.

No entanto, atitudes como a que teve numa visita ao Minho e perante meia centena de trabalhadores despedidos de fábricas de Barcelos e Esposende, dizendo-lhes que não tinha solução para os seus problemas, não ajudam nada.

Quando tal acontece, para bem das pessoas em Portugal, para bem do País, é melhor que fique dentro do Palácio de Belém, a entreter-se com a esposa, filhos e netos…

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