11 dezembro 2009

Apenas mais um episódio da farsa em que tornaram o mundo e as palavras

«Guerra». Esta palavra foi declamada quarenta e três vezes pelo actual prémio Nobel da Paz. Nesta contagem, a palavra «paz» foi enunciada trinta e sete vezes e as palavras «direitos humanos» somaram, em conjunto, sete utilizações na intervenção de Barack Obama na cerimónia de entrega do Prémio Nobel da Paz.

Este foi um discurso em que Obama defendeu a sua paz, discutiu a sua justificação para a sua guerra, dirigiu-se aos seus gigantes da história e aos seus adversários internos. Portanto, este foi o seu prémio. Como prenúncio do que seria o cerne do discurso, Barack Obama, na saudação inicial saudou os seus cidadãos e os outros, os cidadãos do resto do Mundo, espelhando um pouco do «egocentrismo» americano. Lembro-me que quando Barack Obama recebeu a notificação que tinha ganho o prémio Nobel da Paz, afiançou que este seu prémio era um incentivo «à acção», ou seja, um incentivo à sua justificada guerra para impor a sua paz. Não fora cínico, como alguém disse. Fora cruelmente verdadeiro. Obama, com a atribuição do Prémio Nobel da Paz, viu reconhecido e consentido, pelo menos pelo Comité Nobel, o seu «esforço para a paz», que em crua verdade significa um maior «esforço» bélico.

O presidente Barack Obama enunciou vários conceitos interessantes que poderia realçar e, quem sabe, pôr em causa, contudo, por uma questão de um certo carinho comigo e um certo pudor intelectual, deixo aqui apenas uma consideração: Barack afirmou, algumas vezes, a necessidade de uma «guerra justa» e dos imperativos de uma «paz justa». Gostaria que me explicasse como é que o qualificativo «justa» pode qualificar duas coisas tão distintas e antagónicas como a «guerra» e a «paz»? Resposta: não pode. Não há, nem poderá haver «guerras justas». Há, e haverá com a incidência que a estultícia do homem permitir, a guerra. Apenas um nome, sem eufemismos.

Podem ziguezaguear tanto quanto quiserem o conceito de «guerra» mas uma coisa tenho a irredutível certeza: a guerra não é um meio para alcançar a paz e, muito menos, algo justo. O resto, são jogos de interesse e sintomas de uma sociedade a necessitar de uma mudança, pouco mais.

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