Ouvi uma conversa, num café no Porto, entre dois distintos senhores com um falar bem audível, que retratava passagens de um filme da vida política-judicial em voga:
"...isto a uns tempos atrás era bem mais escuro, cobravam as quotas pessoalmente, não havia cá multibanco nem restrições...
"...havia certos membros do partido que cobravam à porta, cada um andava com um livro de facturas...alguns punham para o bolso, outros não, era como bem lhe apetecesse..."
"...bem me recordo, o dinheiro das quotas, das falsas facturas, direccionavam todo para o saco azul..."
"...aquilo funcionava assim, a câmara pedia um serviço a uma empresa, por exemplo de cinco mil contos, depois a factura era passada em dez mil contos. A empresa ficaria com os cinco mil do serviço e o resto do dinheiro iria para a conta do saco..."
"...eles eram os titulares da conta mas não ousavam mexer nela sem a autorização da chefe. Ela era a única a comandar o dinheiro. Por vezes comprava um carro ou um outro produto para seu proveito, outras vezes financiava o jornal, o partido, a campanha..."
Um excerto popular do viver da "velha política autárquica" de extorsão, abuso de poder, ilegalidades, financiamentos ilícitos, corrupção, peculato, imunidade inabalável, trafulhices, apodrecimento do sentido público e cívico, em suma: um desvario. Mas a "velha política autárquica" continua com resquícios por este País. Urge uma renovação de quem pratica ou praticou políticas desta índole e ainda quem deseja praticar políticas desta natureza.
Precisámos de responsabilização política e sentido democrático. A responsabilização implica a penalização por actos irresponsáveis e ilícitos. A sociedade tem que reclamar/reivindicar/exigir a responsabilização política e acabar, ou, pelo menos tentar, minimizar políticos da "velha política".
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