A "tempestade" da crise financeira parece não atormentar o suficiente a mente de muitos. Estes, acomodados como estão ao modelo actual (capitalismo) não ousam (qual herege acção) questionar, muito menos, criticar a essência da crise. A essência desta crise prende-se, na simplicidade que advogo, por um modelo que promove o consumismo, este financiando-se continua e irresponsavelmente com créditos bancários e outras formas artificiais de sustentar o sistema. É a base de sustentação do modelo actual da nossa economia- o consumo desenfreado. A filosofia do livre mercado que defende a nula ou a pouca regulamentação parece estar a ser questionada, não por aqueles (e alguns ainda a defendem cegamente) que ousaram adulá-la, mas por factos económicos em que a crise financeira teve a pouca amabilidade de evidenciar.
Não questionar o sistema actual que alicerça a crise é negá-la. A posição de muitos opinadores (e aqui refiro-me a bloggers e outros pensadores de esquina como eu) em não questionar as causas da crise, muito menos o sistema, só pode ser adjectivado, por mim, como intelectualmente desonesta. Aos outros que defendem a crise (como um ciclo natural de um mercado livre) e o modelo neoliberal, não merecem, por minha parte, nem um irónico adjectivo.
As medidas paliativas das instituições internacionais (União Europeia, G4, EUA e afins) para minimizar a crise têm algo em comum: penalizar o contribuinte para desculpabilizar os verdadeiros despoletores da crise- gestores e accionistas gananciosos. Qualquer modelo de financiamento para os megalómanos empréstimos aos bancos e afins em crise, será sustentado, directa ou indirectamente, pelos contribuintes e pelos países, através dos impostos e títulos de dívida. Incoerência e injustiça. A incapacidade do cidadão de pagar os empréstimos hipotecários, cerne da crise, não terá qualquer medida institucional de grande envergadura (comparada às medidas para ajudar o sector financeiro em crise) para reverter o não cumprimento de quem não pode pagar as suas obrigações -hoje foi anunciado a descida das taxas de juro, que tinha o intuito de aliviar a pressão sobre a concessão de crédito inter-bancário, mas, possivelmente, poderá aliviar o cidadão devedor à banca. Medidas sociais para minimizar os impacto desta crise também não se verá com tal envergadura.
Gostaria de relembrar que para que ninguém no mundo morresse de fome ou de sede, apenas seria necessário mais ou menos 40% do que o Banco Central Europeu injectou nos mercados só no passado dia 29 de Setembro. Mas como neste mundo os valores que guiam os nossos políticos e capitalistas estão marcadamente invertidos -preferem valorizar o supérfluo de que dar o real valor à crise humanitária que atinge mil milhões de seres humanos- isto é algo que não me surpreende. Que raio de sistema é este em que acude célere e eficazmente uma crise abstracta (a crise do capital) e menospreza de uma forma cobarde uma real crise- a da fome e da sede. Não criticar, ou pelo menos questionar, este tipo de atitudes, resultantes do modelo económico actual (capitalismo), é deveras preocupante.
Para fundamentar opiniões sobre gestores gananciosos e inconsequentes que possuem uma inversão de valores crónica, nada como esta notícia, que nos diz que os gestores do "pseudo-falido" AIG, uma semana depois de receber uma "ajuda estatal" de 85 mil milhões de dólares, repastaram-se durante um fim-de-semana por cerca de 440 mil dólares. Cito, ainda, uma afirmação de José Saramago: «A esquerda não tem nem uma puta ideia do mundo em que vive».
Parodiando a notícia do repasto de gestores e a afirmação contundente de Saramago, eis que surge o título deste post: Não tenho a puta ideia em que mundo vivo e muito menos como vivê-lo. Uma afirmação de inquestionável valor filosófico...
Diria que percebo sempre cerca de 12% do que escreves quando falas destas merdas da crise e dos mercados e tal! Não estou a dizer que és imperceptível, estou apenas a dizer que eu (indivíduo sem carro, sem casa, sem empréstimos, com tlm pré-histórico, no fundo sem gastos de natureza capitalista - excepção feita aos momentos em que tenho de respeitar alguns dos meandros do relacionamento social e em que tento seduzir algumas gajas com cenas que as gajas gostam e que por norma implicam que um gajo se foda a pagar uma merdice qualquer, o que no fundo equivale a ter que recorrer à prostituição, apenas com o acréscimo de ter que fazer sala antes de passar ao quarto e de por norma as miúdas com quem eu saio terem a cremalheira intacta, ao contrário das senhoras donas meretrizes) não faço ideia do que é essa merda dos "títulos em dívida" e mais o caralhete. Ainda assim, os gajos da AIG (que merecem consideração necessária visto que patrocinam o Man Utd) são uns xulecos, sim senhor! Há que ter estômago para fazer uma merda dessas! Já agora, qual seria o modelo a utilizar para substituir o capitalismo?
ResponderEliminarPor acaso até sou um pouco imperceptível... Comunicar ou transmitir ideias nem sempre é fácil.
ResponderEliminarTambém sou um indivíduo com poucos "gastos de natureza capitalista", ou seja, consumo com ponderação (mas também não sou exemplo para ninguém !).
Quanto às tuas dúvidas sobre certos termos, carago dr. deveria pesquisar mais..., títulos de dívida, ou seja, títulos da dívida pública são papéis com promessa de resgate futuro, acrescido de juros. O governo tem três formas de financiar os seus gastos:arrecadar impostos, emitir moeda, vender títulos da dívida pública.O título da dívida pública é vendido com um preço específico e com o compromisso do governo de resgatá-lo por um determinado valor, com juros, numa determinada data.
Quanto ao teu "relacionamento social", pá, em tempos de crise, atitudes de crise: tenta fazer o mesmo mas sem gastar dinheiro em mordomias para elas, pois, tendo ou não o que queres delas (isto não é o que estás a pensar) o que vale é a tentativa.
Quanto a um modelo a utilizar para substituir o capitalismo? Não sei. Mas arrisco a apontar um baseado nos princípios socialistas, embora digam cobras e lagartos, continua a ser o único a estabelecer princípios humanistas e de igualdade entre os seres.
Digo, também, que este modelo, o actual com a vertente neoliberal (aquela treta que nos diz que o mercado deve-se auto-regular sem qualquer (ou pouca) intervenção exterior), tem muitos erros e erros, estes, que provocam muita desigualdade e muito desperdício de recursos.
Se partilhares a opinião que este sistema é injusto e inviável e não te submetes a ele - é impensável que numa sociedade como a actual que partilha valores humanistas, admita que haja pessoas a viver com o mínimo dos mínimos (nos melhores casos) e outras a viver uma vida que daria para 10 outros seres (nos piores casos)- que premeia os mais "fortes" e ricos e despreza os mais pobres e "fracos", então junta ao clube de quem ousa questionar o sistema que vigora e tanta gente parece "alimentar".