É irritante assistir aos laivos e insinuações de um certo pseudo-nacionalismo presente em dizeres e comunicados que certos dirigentes políticos proferem ou redigem. Manuela Ferreira Leite aclama ao «nacional-populismo» afirmando como contra-argumento para um iminente endividamento generalizado, a que vamos assistir com o programa de obras públicas, o facto de os empregos futuramente gerados (ou mantidos) sejam para combater o desemprego em Cabo Verde e na Ucrânia. Numa retórica embutida de «Portugal para os portugueses», tenta, oportunamente, cativar o «nacionalismo laboral» para as hostes laranjas. É uma fraca qualidade argumentativa que Manuela Ferreira Leite transpira. De facto, é complexo argumentar contra algo que tem o ministerial toque da antiga ministra das finanças. Mas a Manuela Ferreira Leite consegue isto e muito mais com o apimentar das críticas utilizando o argumento de mais fácil maneio na demagogia reaccionária a xenofobia. Consegue, sim, atingir o descrédito total.
Paulo Portas lidera um partido que, à semelhança de todos os outros partidos que partilharam e partilham a governação neste lustroso país, está descaracterizado ideologicamente. Da sua génese política derivou-se num popular pragmatismo que caracteriza as sucessivas ondas governativas de roubos e de envenenamento da causa pública. No entanto, Paulo Portas dirige um culto a si mesmo, que comummente e de uma forma engraçada intitulam de "Partido Popular", em ex-aqueo com o seu pretenso parceiro de governo (José Sócrates). Paulo Portas, também, destaca-se pelo seu «nacionalismo barato» e os laivos de oportunismo fácil. Penso, que é uma das poucas matérias políticas que o PP (Paulo Portas e/ou Partido Popular) se mantém fixo e obstinado, não cedendo ao habitual balancear de políticas que caracterizam o pragmatismo «popular». O «fenómeno imigração», como um disfemismo para imigração, está presente na retórica «popular» sempre que urge uma oportunidade de apelo ao "voto" dado pelo «nacional-populismo». A última insinuação de Paulo Portas prende-se com a restrição aos vistos de trabalho a estrangeiros pelo singelo facto de que os empregos estão a "escassear" para os portugueses.
Paulo Portas e Manuela Ferreira Leite preferem não dar relevância ao que o «fenómeno imigração» tem contribuído para este país. Sem qualquer dúvida, o «fenómeno imigração» apresenta uma valência inquestionável para o desenvolvimento de Portugal.
Entre 1996 e 2006 a imigração líquida foi responsável por 95% do acréscimo da população portuguesa, contrariando, de uma forma contundente, a tendência nacional para uma excessiva taxa de envelhecimento da população.
Ao nível contributivo os imigrantes representam 4,8% do volume total das contribuições para a Segurança Social que com eles despende 3,2% das despesas, representando um saldo positivo de 420 milhões de euros.
O contributo dos imigrantes para a economia nacional é muito positivo. Segundo cálculos do Departamento de Estudos Económicos e Financeiros do BPI, a parcela do crescimento luso, entre 1996 e 2005, explicada pela imigração líquida, atingiu 18 %. A média da União Europeia a 25 (UE-25) foi de 12%. Se considerarmos apenas o período entre 2001 e 2005, os números são ainda mais expressivos, ascendendo a 89%, no caso português, e a 20%, em termos médios, na UE-25.
Apelar ao «nacionalismo laboral» é uma máscara de saque fácil para disfarçar a falta de políticas alternativas e erros políticos passados. Lembrem-se que todos somos imigrantes na nossa terra e é algo estranha que alguém possa determinar que um outro possa ou não viver naquele espaço se o espaço a ele não o pertence. A terra é de todos e para todos, um simples e essencial conceito que convinha que os políticos da «nossa praça» referissem.
Diria mais, para além de xenófobos, são anti-globalização, anti-europa, anti-aproximação cultural. Não percebem que as sociedades estão em mudança, e que necessitam de aproximação para partilha de saberes e de ideias. Como se os imigrantes fossem os responsáveis pela taxa de desemprego, e como se este planeta a alguém pertencesse. É mesmo um apresentar de alternativas políticas irrealistas, típicas responsáveis por guerras e guerrinhas, em consequência do preconceito e da marginalização de povos e culturas diferentes. Parece que o desejo destes políticos será fechar as fronteiras. Por outro lado, parece também, que se esquecem que os portugueses emigraram no passado, e emigram no presente.
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