"Várias esquadras do país estão a impor "números-base" de detenções a fazer até ao fim do ano. Os polícias queixam-se de que assim só trabalham para as estatísticas. A Direcção da PSP prefere falar em prevenção da criminalidade. " [in JN]
Será que sabem o que a Estatística representa? Será que sabem que se baseia essencialmente num padrão de números de referência que apesar de matemáticos, espelham contudo, o acaso ou a probabilidade, logo, são meros guias que não reflectem uma realidade absoluta e exacta, mas por outro lado, probabilística e aleatória.
É talvez por esta razão que a Estatística tem sido usada frequentemente como mecanismo para inventar verdades e para esconder mentiras.
O problema é simples de perceber. O facto de uma esquadra vir a ter eventualmente, uma média de detenções superior à de outras, não significa que, na sua área de abrabgência haja mais ou menos crime, da mesma forma que, não significa que os agentes policiais dessa esquadra sejam mais ou menos competentes, da mesma forma que, não significa que numa esquadra se trabalhe melhor que noutra, da mesma forma que, não siginifica que o crime aumentou ou diminuiu, da mesma forma que, não siginifica que vivemos mais seguros... E isto porquê? Porque a Estatística trabalha com números e, na sua dimensão, ignora muitos factores de desvio e aproximação à norma, quando calcula a própria aleatoriedade dos vários domínios do comportamento humano. A PSP, ao implementrar os tais "números base" (de detenções) está invariavelmente a condicionar, à partida, essa mesma estatística, uma vez que, atribui um número alvo ou uma meta, logo, deixa de ser Estatísticas e passa a ser uma estatística com a base numa aritmética moldável pelos próprios agentes da PSP, deixando de ser aleatória para passar a ser previsível e manipulável pelo ser humano. Assim sendo, na minha opinião, esta pseudo-estatística não vai contribuir para melhorar a segurança nem para reduzir a criminalidade global.
Se não vejamos. Supondo que, por casualidade, não hajam crimes susceptíveis à detenção dos prevaricadores, o que é que vão fazer os agentes das esquadras?!?!?!
Inventar crimes ou delitos, susceptíveis de detenção?!
Inventar provas de crime?!
Deter inocentes?! ....
...Ou seja, inventar verdades e esconder mentiras.
Onde é que a Estatítica pode ajudar na prevenção à criminalidade??? Em primeiro terá de ser uma Estatística séria, não manipulável, e sem números previamente definidos. Porque uma estatística séria poderá auxiliar a identificar os problemas e as dificuldades dentro das esquadras, a identificar as necessidades de investimento e de implementação de estratégias, identificar focos de criminalidade e os seus mecanismos, assim como contribuir para uma melhor compreensão do crime e da dificuldade no combate ao mesmo. Contudo, a Estatística, isoladamente, não vai nunca conseguir explicar com exactidão a razão desses problemas, nem a razão de uns terem melhores médias, melhores modas, desvios-padrão e por aí fora...
Como alunos que não reprovam de ano para não estragar a estatística do sucesso/insucesso escolar; ou como doentes que são transferidos, à pressa, de serviços se saúde super-equipados para outros de "retaguarda" para que a certidão de óbito seja passada nos segundos e não se estrague a estatística dos primeiros; ou como as estatísticas das greves, em que os sindicatos apresentam números e, os governos apresentam outros completamente díspares; Ou como as estatísticas de previsão económicas que falham inúmeras vezes.
A Estatística é um excelente aliado para ajudar a compreender o mundo, para identificar problemas e tendências, mas jamais conseguirá explicar esses problemas e essas tendências isoladamente, ou atribuir-lhes significados morais. A sua matéria de estudo deve ser analisada com detalhe para se perceber as causas que levaram à obtenção de determinado número (média, moda, mediana..., etc, e, actuar sobre essas causas, e não sobre esse número.
Em Portugal é comum fazer-se o inverso, ataca-se os números ignorando as causas.
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