08 setembro 2009

A propósito da saúde e da história do serviço público versus serviço privado (Parte I)

Para uma melhor compreensão do que vou escrever nos próximos dias, devo começar por uma ideia base, que não raramente, é esquecida por muitos daqueles que falam do sistema de saúde. Um sistema de saúde envolve uma tríade básica composta por 3 pilares essenciais: Os cuidados de saúde primários, os secundários e os terciários.
Os primários comportam a primeira linha de actuação e deveriam ser os mais importantes no que diz respeito à intervenção e investimento em políticas de saúde, até porque são a raíz do estado de saúde de uma sociedade e, envolvem meios menos especializados e tecnologias menos dispendiosas, logo são mais baratos. A sua estrutura tem como objectivo a promoção de saúde e prenvenção da doença. Estes cuidados são prestados por estruturas, como por exemplo: Centros-de-sáude, Unidades de Saúde Familiares (USF´s,), por programas de controlo epidemiológicos e de saúde pública, programas de educação para a saúde, etc... As suas principais finalidades, entre outras, são: contribuir para que a sociedade seja educada na saúde, adopte estilos de vida saudáveis, evite comportamentos de risco, tenha acompanhamento médico ao longo do seu ciclo de vida, que lhe permita detectar potenciais predisposições para certos tipos de doença e, readaptar o seu estilo de vida como forma de prevenir as mesmas ou a sua agudização, evitando ou retardando, dessa forma, o recurso aos internamentos e tratamentos hospitalares, mais especializados e caros, isto é, o recurso aos cuidados de saúde secundários.
Os cuidados de saúde secundários envolvem essencialmente o diagnóstico precoce e o tratamento de doenças. Isto é, quando a primeira linha falha ou quando detecta suspeitas de doença, (pela sintomatologia, historial familiar/predisposição genética, estilo de vida, etc), o utente é encaminhado para os centros de exames complementares de diagóstico, a fim de efectuar os check up´s necessários e rastrear eventuais complicações (Radiografias, Ecografias, mamografias, electrocardogramas, análises sanguíneas, TAC´s, ecocardiogramas, cintigrafias, ressonâncias magnéticas nucleares, etc). Detectada a doença e depois de diagnosticada, o utente pode manter o acompanhamento médico nos cuidados de saude primários, isto quando não existe gravidade ou agudização que exija cuidados especializados/diferenciados, ou com carácter de urgência. Ou então, por outro lado, pode haver necessidade de tratamentos especializados em meio hospitalar (ex: internamentos prolongados por agudização de doenças que exigem cuidados médicos especializados e com tecnologia de ponta, cirúrgias, cateterismos, quimioterapia/radioterapia, mais exames complementares de diagóstco idênticos aos em cima descritos para melhor monitorização do prognóstico e evolução da situação clínica, etc). Escusado será dizer que este tipo de cuidados de saúde são muito mais caros, e actuam em situações de doença instalada, portanto, remedeiam, não previnem.
Por sua vez, os cuidados de saúde terciários resumem-se essencialmente às intervenções de saúde direccionadas para a convalescença/reabilitação de situações de doença. Os principais objectivos são os de auxiliar o utente a recuperar o mais eficiente e eficazmente possível, ou ainda, a adaptar-se a eventuais perdas na autonomia e independência na realização e satisfação das actividades de vida diária e, necessidades humanas básicas. Por exemplo: doentes que sofrem Acidentes vasculares cerebrais dos quais resultam sequelas como perda da capacidade de mobilizar partes do corpo (parésia/plegia), ou perda da capacidade de falar ou expressar-se adequadamente (afasia/disártria), que retiram autonomia à pessoa exigindo uma adpatação à sua situação de doença.
Dou como exemplo de estruturas que intervêm nos cuidados de saúde terciários: Centros-de-saúde, unidades de fisiatria/fisioterapia, centros de recuperação de actividade motora, unidades de cuidados continuados, terapia ocupacional, terapia da fala, etc.
Há contudo, estruturas que podem intervir em mais do que um nível de actuação, isto é, dependendo do serviço a efectuar ou dos cuidados a prestar, podem integrar cuidados de saúde primários, ou secundários, ou terciários (exemplo: os Centros-de-Saúde).
Um bom sistema de saúde, para além de oferecer qualidade e eficiência nos 3 níveis estruturais de actuação, tem essencialmente de conseguir articulá-los entre si, para que se actue com raíz, tronco e membros.
(CONTINUA...)

2 comentários:

  1. EXCELENTE POST :)
    DEU-ME IMENSA AJUDA NO MEU ESTUDO PARA SAUDE PUBLICA :)

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  2. a mim também meu caro senhor

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