10 setembro 2009

A propósito da saúde e da história do serviço público versus serviço privado (III)

Voltando ao tema, e após descrever muito resumidamente os pilares do nosso sistema de saúde e a sua complexidade de organica laboral, falta reflectir um pouco sobre o que seria mais vantajoso para os portugueses, no que diz respeito às diferentes visões de futuro para o sistema de saúde português - Público ou Privado?
Se relerem o primeiro artigo deste tema e reflectirem bem, vão chegar à conclusão de que o nosso sistema de saúde, é actualmente um sistema misto, no qual há um claro predomínio do sector público, mas onde o sector privado figura com relevância. Se por exemplo pensarmos em Centros-de-saúde e serviços de internamento e tratamento especializados/diferenciados (em hospitais), que normalmente é o que a maioria das pessoas entende como o sistema de saúde, pela sua transversalidade e importância estrutural, claramente verificamos um seviço público mais predominante. Por outro lado, se pensarmos por exemplo, em indústria farmacêutica, em consultórios privados de especialidades médicas, em clínicas de fisioterapia, medicina dentária, clínicas/centros de exames complementares de diagnóstico, clínicas de cirúrgia electiva de especialidades, e também em centros de tratamentos com recurso a tecnologias de ponta (Ex:Centros de diálise, clínicas de radioterapia...), verificamos uma parcela muito significativa de serviço privado.
O que está em causa no nosso sistema é principalmente a acessibilidade e eficiência dos cuidados, não a qualidade em si. Por isso, convém desmitificar que um atendimento em instalações a cheirar a novo com todas as mordomias de um hotel resort 5 estrelas, com pessoas "simpáticas" de sorriso amarelo dispostas a ouvir os problemas de saúde e ainda as lamentações da vida privada, ou que lhe proponham fazer mil e um exames, ou que lhe proponham logo ir à faca, ou que lhe prometam um tratamento milagroso, não significa, por si só, bons cuidados de saúde. Aqui penso que temos de ser muito claros, os serviços de saúde servem para promover um bem essencial, não devem ser encarados pelos utentes como locais de mordomias e caprichos. Não quero com isto dizer que não devam ter conforto e distrações (estes também são fundamentais, até porque o bem-estar não se resume exclusivamente à clínica, mas também, à relação da pessoa com o meio envolvente), mas há que ter bom senso. Posto isto, o objectivo principal de actuação de um serviço de saúde é o binómio - saúde/doença; e é com ele que os serviços de saúde se devem preocupar em primeira linha. Assim sendo, há prioridades no atendimento que não podem ser esquecidas em detrimento de outras. E que não haja ilusões, há bons e maus profissionais nos dois sectores (público e privado).
(CONTINUA...)

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