10 maio 2010

Dias de Maio de 2010

Por: Alfredo Pinto Coelho.

Entre o final da queima (dos fígados) dos estudantes universitários e a mudança de grupo sanguíneo, de muitos campeões, para S de Sagres , a poeira de naftalina causada pelas bandeiras e cachecóis a agravar a nuvem esquisita, lá dos nórdicos, que por cá também veio parar, neste mês de Maio, do ano da graça de 2010, rumamos agora a grande velocidade para a bênção papal com bandeirinhas brancas e direito a folga para ir abanar o traseiro para o shopping,...

Na ressaca, campeões e universitários parece que vão pedir folga - à folga para ver o Papa.

Nestes dias de milagres, de capa preta ao princípio da noite, chuva de shots a arrepiar a espinha por entre a madrugada desenfreada, qual simplex , anula-se o traje, lingerie é para usar por fora, jovem que é jovem é resistente ao frio, quentes por dentro e por fora não há pêlo que trema, boca que não despeje, e siga a marinha: corpinho danone na calçada que a vida são dois dias...

Os menos dotados à aprendizagem para a vida, ao nascer do dia, divertem-se, ainda pequeninos, a tocar as campainhas nos prédios, porque o que importa é retardar até estourar (eles), e os outros chatear.

Festa rija em Portugal, enquanto aprovam a vinda do TGV que afinal vai ficar pelo Poceirão, pois a cheta não dá para chegar a Lisboa.

Deixa-os gritar: “ e quem não salta não é campeão ..”; deixa os estudantes dar o corpo ao manifesto: “são novos, não pensam ..” ; deixa andar, que estão distraídos!

Entretanto, prepara-se o corte ao 13.º mês e avisa-se que irão mesmo tornar a aumentar os impostos.

O Jesus, o treinador, já fez o milagre do ano embora conste que os milagres estão caros;

um ex-ministro das finanças, disse que a receita para resolver os problemas do país era:

ter fé!;

a nuvem de cinzas, essa, teima em nos deixar mas o Papa, parece, vai poder viajar para Portugal.

As previsões meteorológicas dizem que a 13 de Maio vai estar sol.

Para um tipo de 50 anos, do Sporting, em poupança de fígado e pobre em fé - não daquela que ainda lhe importa - que não vai ver o Papa e é alérgico a shoppings, a tolerância de ponto só poderá dar para dormir e esquecer.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Antes de tudo parabéns pelo texto, rico na sua estrutura e nas suas figuras de estilo.


    Quanto ao conteúdo de opinião, partilho da preocupação do excesso de euforia em tempos dificeis, mas, sempre discutível tendo em conta as crenças, as paixões, os gostos, e a valorização que cada um dá às coisas. O mal é o efeito de distracção que tudo isto provoca a uma grande maioria que, já de si anda distraída, mesmo na ausência de festa. Ela só vem intensificar o efeito.


    Apenas acrescento o meu receio de que nos próximos dias, ou meses, venham aí umas "bombas" do lado de S. Bento. É que depois desta gritaria acabar vem o Mundial da bola em terras de Nelson Mandela, com bandeirinhas à parolo nas janelas, num país de pseudo-patriotas que se unem pela bola mas, que não hesitam em cuspir na Pátria todos os dias quando ela está sedenta de uma responsabilização comum, de uma justiça em condições, de um esforço conjunto, de deveres cívicos, de deveres profissionais e patronais, do respeito pelos outros, de solidariedade, de cultura de formação e educação pessoal... (É o estado social que temos e que foi criado ao longo da "3ª République bananoide" pelos ilustres senhores que nos governaram e governam.

    Por isto receio, que os senhores que nos governam (agora) lancem umas valentes "bombas". É que eles têm por hábito escolher estas alturas, quando meio mundo anda distraído com festejos e bajulções (povo e comunicação social), para anunciar e decretar medidas de austeridade. Assim passam mais despercebidas. Eles sabem-na toda.

    Pena é que os festejos sejam fugazes e de prazer momentâneo, e pena é que as "bombas" costumem ser de efeito prolongado e decadente. E pena é que só rebentem a sério quando o tuga acorda do sonho da euforia, da festa e, cai na real do aperto do cinto, das dificuldades, da perda de direitos, da precariedade, do empobrecimento... e muitas coisas mais, quando já não há volta a dar. Mais uma vez será um velhinho déjà vu, gasto de tanta repetição, mas que ainda funciona muito bem nesta Pátria.

    Como eu o compreendo Alfredo P. Coelho. Estou em sintonia

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