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29 janeiro 2010

Finalmente alguém começa a dar ouvidos

Deixo aqui algumas declarações de preocupação, demonstradas pelos partidos da oposição, relativamente à actual situação dos enfermeiros. E é bom lembrar que não estamos em época eleitoral, pelo que não faz qualquer sentido pensar-se, que esses partidos estejam a manifestar solidariedade com os enfermeiros, apenas para que simpatizem com eles, e neles votem. É pura e simplesmente um acto de perceber a greve, de concordar com ela e de a entender. Há males que vêm por bem.

Rosário Águas (PSD)

João Semedo (BE)

Bernardino Soares (PCP)

Uma mentalidade social também desmotivante

A sociedade que temos hoje, parece viver mergulhada numa espécie de procura permanente da relação - causa-efeito. Enquanto saudáveis tudo corre bem, quando surge um problema de saúde, tudo parece resolver-se com uns comprimidinhos, com umas análises e uma dietinha, ou com uma bateria de RX´s, TAC´s, RMN, Ecografias..., e uma boa dose de frases do tipo - não se preocupe tudo vai correr bem, isto que o sr(a) tem trata-se.

Aqui surge um apontamento. Tratar é uma coisa diferente de cuidar.

E apetece-me escrever hoje, porque se vai lendo uns comentários aqui e ali, que são tão básicos e desprovidos de argumentos e, muito propavelmente desprovidos de conhecimento de causa, que qualquer enfermeiro sente tristeza, e vê a não valorização de um trabalho de muita responsabilidade e desgaste.

Há ainda quem diga que não é uma boa altura para se convocarem greves. Eu pergunto se há alguma altura ideal para se fazerem greves, ou se tem de se encomendar um estudo científico para escolher as suas datas. Talvez para algumas cabecinhas, as greves deviam guardar-se para quando tudo parece correr bem, quando o país cresce, quando as pessoas vivem felizes, quando sentem justiça e são reconhecidas pelo seu trabalho, pelo seu esforço e pela busca da melhoria dos seus conhecimentos e qualidade na contribuição para o bem-estar das pessoas.

Na sociedade, a correria é tanta que tão pouco aprecia aquilo que é fundamental para a sua sobrevivência. Vive tão friamente à procura não sabe bem do quê, que nem de si sabe cuidar. Acha que sabe tudo de tudo e, que com uma busca no google ou umas breves leituras aqui e ali, se sabe muito sobre cuidados de saúde. Tão pouco aprecia um copo de água porque não se sente desidratada. Tão pouco aprecia o ar que respira. Tão pouco aprecia o seu corpo e a sua pele limpa. Tão pouco aprecia a sua independência e a sua autonomia para andar, comer, urinar e evacuar, ou de se virar numa cama as vezes que quiser durante a noite. Tão pouco aprecia a sua capacidade de comunicar as suas necessidades através da fala. Tão pouco aprecia a ausência de dor física, e também emocional, só se lembrando dela quando doi a sério e quando não tem ninguém que ouça os seus apelos ou a compreenda, por palavras ou por linguagem não verbal. Tão pouco sabe daquilo que a faz acreditar, daquilo que é olhar para ela como um conjunto de pessoas humanas na sua essência, que têm necessidades, e que precisa de as satisfazer para se sentir bem, feliz, e sobretudo, acreditar que a vida ainda tem algum significado. Seria bom que se lembrasse que a morte não é só biológica. São as necessidades que estão presentes desde o nascimento até à morte, aquelas que mais negligencia e as que mais sentido dão ao viver.

É talvez por isso que só o perceba, quando a doença força a uma alteração dos seus hábitos, e não são todos que o percebem, infelizmente. Talvez por isso, até chegar esse momento, pouco aprecia quem cuida dos seus conhecidos e familiares doentes, quem anda para trás e para a frente, para cima e para baixo, em telefonemas atrás de telefonemas, num esforço permanente de solicitar, ou sugerir ao médico a prescrição de um analgésico, um ansiolítico ou um medicamento para dormir. Para sugerir um alteração da dieta, ou um acerto na dosagem de um medicamento, ou para alertar para a necessidade de uma observação psiquiátrica, ou ainda solicitar uma avaliação da situação social. Tão pouco valoriza quem dá uma papa à boca. Tão pouco valoriza quem dá um banho, limpa um rabo ou limpa uma boca. Tão pouco valoriza quem detecta uma candidíase, uma escabiose, ou um herpes, ou uma conjuntivite... e solicita ao médico que prescreva umas pomadinhas, ou umas gotinhas. Tão pouco valoriza quem intervém na reabilitação, na explicação da importância das terapêuticas, na informação contínua que lhe presta sobre a sua evolução clínica, sobre a importância e utilidade dos procedimentos técnicos que são executados e sobre os exames que vão ser efectuados. Tão pouco aprecia quem a ajuda a ser menos dependente, e quem lhe ensina as estratégias para se tornar mais autónoma. Tão pouco aprecia aqueles que menos absentismo laboral apresentam ao seu serviço.

Ou seja, tão pouco aprecia que haja alguém presente, que dê cavaco, que se lembre da pessoa, que a informe, que se preocupe com ela, que a compreenda, que a queira ajudar, que olhe para ela como um todo.

Mas não é só no cuidar, também há as componentes técnicas. Para além de cuidar, os enfermeiros também intervêm no tratamento. Os enfermeiros são responsáveis por inúmeros equipamentos tecnólógicos, pelo seu manuseamento e manutenção. São responsáveis pela gestão dos stock´s e dos recursos materiais existentes nos serviços. São quem administra terapêutica e monitoriza os seus efeitos. São quem sabe como a terapêutica é preparada. Conhecem também as suas interacções, os seus objectivos e as complicações que podem provocar no organismo. São quem monitoriza o doente durante as 24h. São quem no imediato assiste o doente e intervém em situações de emergência, providenciando o que é necessário até que o médico chegue e complete a estabilização. Em algumas áreas entubam até oro-traquealmente, quando necessário. São quem prepara os procedimentos técnicos médicos, são quem prepara doentes para os exames e cirúrgias, são quem efectua colheitas de sangue, de urina, fezes, expecturação, exsudados de escaras, etc, São quem algalia, quem coloca sondas-nasogástricas, quem realiza os pensos, e quem monitoriza toda a hemodinâmica durante 24h. São quem fazem do corpo e da alma de uma pessoa o seu trabalho. E ainda tratam de papelada e burocracias. Também fazem trabalho de administrativos nas horas e nos dias em que ele lá não está, porque muitos serviços de saúde não fecham durante a noite nem aos fins-de-semana e feriados. Também organizam processos, resolvem questões burocráticas e atendem telefones.

É quando o problema de sáude se agrava, quando rouba o bem-estar, a autonomia e independência na satisfação dessas necessidades, que se passa a dar mais importância às coisas que pareciam mais simples e banais da vida, mas, que são as que se revelam mais importantes. E é aqui, que a tal relação de causa-efeito deixa de fazer sentido. É aqui que entra em jogo a espiritualidade da pessoa, a sua intimidade, as suas crenças, os seus objectivos, os seus gostos e os seus hábitos, no fundo, a sua singularidade, a sua personalidade única, que impede que essa relação de causa-efeito seja um sucesso garantido. É aqui que digo, ninguém conhece melhor um doente que o enfermeiro, ninguém gere tanta informação diversificada sobre o doente como enfermeiro. É porque as pessoas são todas diferentes, que a profissão de enfermagem é tão difícil, desgastante e um desafio constante.

Podia estar aqui a noite toda a escrever e a descrever exemplos da importância desta profissão.

Há quem por ignorância ou estupidez, ache que tudo é fácil, ache que é só limpar uns cuzinhos e dar uma injecções. Para isso até um serralheiro serviria, pensam eles. Mas estão mais enganados do que julgam. Por que até para isso é preciso ter jeito. Nós não nascemos todos para o mesmo. Por isso tão pouco dão ouvidos ao que o enfermeiro lhes diz, tão pouco valorizam no que os educa e aconselha nos seus hábitos e na promoção da sua saúde, no acompanhento domiciliário, no envolvimento da família e na articulação dentro dos serviços de saúde e com serviços sociais e educacionais. Como se não fossem necessários conhecimentos científicos, técnicos, clínicos, humanos e sociais, para exercer enfermagem. Para aqueles que julgam que os enfermeiros são meros empregados dos médicos e se limitam a cumprir as suas ordens, não tendo nenhuma actividade autónoma, então pergunto, o porquê de serem tão exigentes connosco quando recorrem aos serviços de saúde? Por que chamam tanto pelos enfermeiros nas situações de aflição? Por que nos atiram com responsabilidade à cara quando no doente surgem alterações? Por que fazem tantas perguntas ao enfermeiro?

Por isso digo, que estamos cá para lembrar a sociedade que as coisas aparentemente banais da vida, são aquelas que mais sentido lhe dão. Os enfermeiros estão cá para ajudar a satisfazer essas necessidades, ou restituir a autonomia na satisfação das mesmas. Nós estamos cá para vos servir e não estamos apenas presentes nas instituições de saúde. No dia-a-dia estamos ao vosso lado, e fiquem descansados que não vos vamos cobrar 100 euros por limpar um rabo ou dar uma injecção.

Sou um enfermeiro orgulhoso do meu trabalho, perdi o nojo do cheiro a merda, depressa me habituei à arrogância de pessoas sãs e doentes, ao insulto. Deixou de me incomodar o cheiro a sangue, os salpicos de secrecçõs, a tosse e os espirros para cima da minha cara, dos meus braços e do meu cabêlo. Não corro atrás do frasco de álcool para despejá-lo em cima de mim por ter medo das bactérias e afins. tenho prazer de cuidar pessoas desorientadas que perderam a noção do mundo e de tudo aquilo que as rodeia. As mais necessitadas são aquelas a quem dou prioridade, independentemente do seu status... Sabem qual o maior gozo de ser enfermeiro? É o de crescer-se como pessoa, de dar valor ao que muitos se esqueceram de dar. Esse é o meu verdadeiro orgasmo profissional. A única coisa que me incomoda, é que não se dê valor ao trabalho e dedicação de uma profissão tão humana como é a enfermagem.

Quando ouvi a ministra Ana Jorge apelar ao bom senso dos enfermeiros, o meu sentimento imediato foi, o de que a caríssima ministra é que perdeu o bom senso.

24 janeiro 2010

Um Portugal desmotivante

Não tenho por hábito abordar esta temática porque sou suspeito, e porque compreendo que estamos numa altura de crise financeiro-económica na qual deve haver um esforço conjunto da sociedade na contenção de despesas. Porém, a situação é de tal forma humilhante e ultajante que me é impossivel ficar calado perante tal afronta. O Ministério da Saúde na sua mais recente contra-proposta negocial com a classe profissional de enfermagem, quebrou vários pré-acordos estabelecidos, e como se não bastasse, propõe uma redução salarial. Sim, leram bem, uma redução salarial para uma profissão de risco, altamente desgastante, e cujas competências são de elevada responsabilidade, a qual não vê reconhecida carreira alguma há quase uma década, sendo a única classe profissional de licenciados a prestar serviços ao Estado, cujos salários são equiparáveis aos de bacharelato. Esta situação tem-se arrastado ao longo desta década num vai e vem negocial entre os sindicatos, a Ordem e o Ministério da Saúde. É caso para perguntar, Estarão os representantes do Governo e do Ministério da Saúde na sua perfeita sanidade mental?!?!?! Quem tem de pagar a crise são aqueles que já de si estão desfavorecidos e injustiçados?!?!?!

O governo Sócrates já nos tem habituado a estas paródias, primeiro foi a classe dos professores humilhada até às últimas consequências, agora, são os enfermeiros as próximas vítimas. Quem serão os próximos?
Mas até nisto os governantes são "chicos-espertos", porque escolheram uma altura perfeita para apresentar a sua proposta de maneira a que passasse o mais despercebida possível, onde as atenções estão focadas na negociação do Orçamento de Estado e na tragédia do Haiti.

Por estas razões, os enfermeiros estarão em greve a 27, 28 e 29 de Janeiro. Só que haverá uma grande diferença comparativamente a outras greves, nós nunca conseguiremos juntar 100000 enfermeiros em protesto na avenida da liberdade, porque para além de uma grande percentagem trabalhar por turnos, acima de tudo temos bom senso, e, sabemos que não podemos abandonar por completo os locais de trabalho, tendo forçosamente de assegurar serviços mínimos para garantir a dignidade e a sobrevivência dos utentes, que não têm que pagar por esta afronta, e nada têm que ver com esta luta.

Apenas gostaria que a comunicação social e os partidos da oposição olhassem para os enfermeiros como olharam para os professores, porque tenho a noção que uma grande percentagem da opinião pública tem a errada convicção de que os enfermeiros são bem remunerados. E porque hoje estamos aqui saudáveis e amanhã podemos estar doentes, talvez um dia as pessoas compreendam a importância transversal que esta classe profissioanal tem no sistema de saúde. Por que, quem trabalha na área da saúde e quem tem conhecimento da realidade, sabe que sem enfermeiros o sistema de saúde pura e simplesmente pára.

Chegou a hora de dizer - BASTA DE GOZAREM COM A NOSSA CARA!

02 abril 2009

Greve dos enfermeiros

Para que não hajam confusões, insinuações ou comentários infelizes por parte de quem, muitas vezes, é desconhecedor da realidade desta honrosa e indispensável profissão, o que os enfermeiros reivindicam é pura e simplesmente justiça e igualdade de tratamento em igualdade de circunstâncias, comparativamente com classes profissionais equiparáveis ao seu grau de qualificação académica, dentro de um Estado que se diz de Direito, ou seja, que supostamente zela pela justiça e igualdade.
Também não concordo com greves "encostadas" a fins-de-semana, mas é bom que as pessoas entendam que, quem convoca as greves são os sindicatos, e não a generalidade dos enfermeiros.