27 outubro 2008

«Não se trata de um erro humano, mas do Sistema»

«Conhece por acaso o Sistema? É um tipo de costas largas a quem é atribuída a morte, estado definitivo e sem emenda possível, de milhares de portugueses hospitalizados. Pelo menos é o que se conclui da explicação que Aida Baptista, presidente da Associação Portuguesa dos Framacêuticos Hospitalares (APFH), deu à Lusa para justificar os «erros de medicação».

Segundo Aida Baptista, o dito Sistema assassina os pobres doentes recorrendo a quatro modus operandi. A saber:

a) Serve-se do farmacêutico que avia mal a receita porque «a letra do médico é ilegível».

b) Serve-se do médico que receita uma dose excessiva.

c) Serve-se da farmácia que confunde as embalagens e manda outra.

d) Serve-se do enfermeiro que, por exemplo, dá o medicamento ao doente errado.

Como é óbvio, nem o farmacêutico deveria ter confirmado junto do médico o que estava escrito, nem o médico deveria pensar no que faz antes de se pôr a receitar, nem o empregado da farmácia tem culpa de ser daltónico, nem o enfermeiro tem a menor responsabilidade no facto de trocar os doentes. Se pensava que estes actos caíam, na melhor das hipóteses, na categoria de acidentes ou erros humanos, mas que não deixam por isso de ter um quadro de responsabilização, desengane-se porque Aida Baptista garante: «Não se trata de um erro humano, mas do Sistema», ou por outras palavras «não há culpados no erro de medicação». Não sei porquê, mas pressinto que nunca ninguém diz à família do falecido o que aconteceu porque, ignorantes, essa gentinha era capaz de querer processar o farmacêutico, o médico e o enfermeiro, coisa que se percebe agora ser muito injusta. A enfermeira enganou-se a dar-lhe os remédios porque estava a cair de sono, em consequência de fazer dois turnos em 24 horas? Nem pensar, a culpa é do Sistema.» (ler mais).

2 comentários:

  1. Enquanto a sociedade não perceber que os profissionais de saúde são seres-humanos que erram como qualquer outro, este tipo de bodes-expiatórios estará sempre presente. Penso que não se deve nem pode desresponsabilizar ninguém pelos seus erros. A pessoa que os comete deverá ser sempre a primeira a assumi-los.
    Logicamente que na saúde os erros são sempre alvo de muita polémica, uma vez que podem colocar vidas humanas em risco. Mas há erros e erros. Há aqueles que acontecem com alguma frequência mas que nunca poem em causa a saúde ou a vida do doente originados pelas mais variadas razões. E há outros erros, os graves, os crassos que podem ter consequências muito más. Esses sim por ignorância ou pura negligência jamais podem ser desresponsabilizados e devem ser punidos por lei, de acordo com o previsto.

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