O bastonário da Ordem dos Médicos, Pedro Nunes, continua, na sua senda, para nos (re)lembrar quão é lamentável o seu corporativismo. Desta vez o bastonário está preocupado com a qualidade do novo curso de medicina a leccionar na Universidade de Aveiro. Em que se baseia? Veremos:
"os critérios de selecção, a preparação de base exigida aos candidatos a este curso, a importação de um método de ensino de países com uma cultura distinta da portuguesa e as dificuldades de selecção do corpo docente são indicadores profundamente preocupantes que poderão levar ao aparecimento de médicos com nível de conhecimento e qualidade de formação inferior ao desejável"
1."os critérios de selecção"
Estes critérios baseiam-se num sistema de acesso ao curso semelhante ao que se pratica em países como os EUA, Inglaterra etc. No caso do curso de medicina a leccionar na Universidade do Algarve, haverá uma primeira etapa de avaliação de aptidões cognitivas e uma prova de língua inglesa (algo que não existe no acesso aos outros cursos de medicina salientando uma exigência importante). Numa segunda fase haverá a um conjunto de dez entrevistas que visa reconhecer as aptidões para a prática de medicina (mais uma vez, não existe no acesso a outros cursos de medicina e que muita falta faz este critério).
2. "a preparação de base exigida aos candidatos a este curso"
Segundo este método de acesso os candidatos devem ser possuidores de, pelo menos, um diploma de licenciatura numa das ciências relacionadas com a saúde ou equivalente legal e a classificação mínima tem de ser 14 valores. Com este "tipo" de preparação já existe algumas centenas de alunos (pelo regime de acesso especial) a frequentar outros cursos de medicina em Portugal. Portanto, mais nada a dizer, para além, das vantagens que este "tipo" de alunos trazem serem óbvias.
3."a importação de um método de ensino de países com uma cultura distinta da portuguesa"
Sinceramente, não compreendo a preocupação. Qual método de ensino? O método que integra alunos com algum tipo de vocação para a "coisa" e com alguma experiência, pelo menos, académica em ciências da saúde?
4."selecção do corpo docente"
Como em outros cursos e em outras escolas é constante e legítima a preocupação com qualidade do corpo docente. Todos nós desejamos excelência no ensino.
5."poderão levar ao aparecimento de médicos com nível de conhecimento e qualidade de formação inferior ao desejável"
Não se preocupe senhor bastonário, porque já os há. Com o sistema "aprovado" pela Ordem e mesmo com o método de ensino e acesso ao curso mediante o que Ordem deseja. Provavelmente, será este o problema. Os "testes" de vocação seriam um grande empecilho.
Mas há mais. Como uma cereja pútrida em cima de um dantesco bolo de (menos boas) intenções, o bastonário presenteia-nos com esta "alegação" final(muito representativa do que defende para ele para os seus):
"não há qualquer necessidade de criar novos cursos de medicina em Portugal" e considera, por isso, "falsa a justificação para a criação do curso de Medicina da Universidade do Algarve"
Voilà, um momento de êxtase corporativista. Penso que este assunto já foi muito discutido e é bem aceite a necessidade de ser criar mais vagas e escolas (entre os plebeus, pois claro) devido à necessidade de se formar mais médicos, excepto a Ordem dos médicos e os seus "associados". Além do mais, qual o problema de haver mais médicos que o necessário? Pior, se fosse (e é) o contrário.
Viva. Concordo plenamente. Ouvi hoje de manhã a notícia na TSF e nem queria acreditar nos moldes em que a notícia foi publicada, fiquei boquiaberta. Se há tantos médicos, porque há tantas queixas de falta deles?Porque os Sr.Drs. tiram a licenciatura, fazem internato e vão para a especialidade que desejam (ou em que conseguem ter vaga).Posteriormente apresentam-lhes as ofertas do sector privado e é o que se vê.Com a agravante de o curso ser extremamente dispendioso. Haviam de se formar tantos médicos, que se viam obrigados a ir para onde fossem colocados, ou então serem obrigados a fazer a periferia como há anos atrás.Os próprios médicos concordam que são necessários mais profissionais, mas a Ordem dos Médicos discorda.O que dizer de um bastonário que considera que Portugal e Espanha não devem assinar acordos de cooperação, porque são inimigos naturais...LLOlada.Enfim, corporativismo.
ResponderEliminar