Segundo um especialista belga, o BCE deveria comprar algumas obrigações financeiras a alguns estados da zona euro para "solidificar" os empréstimos e assim diminuir as taxas de juro implícitas ao risco de não pagamento destes empréstimos. À primeira vista, é um intento semelhante aos planos de "saneamento" financeiro que estão ultimar os governos da Europa e dos EUA, mas focado para as obrigações (títulos de dívida do Estado) dos países europeus. Porém, o problema se mantém, ou seja, invés de combater o que originou a «crise» continuam com propostas alternativas sem efeito de "cura".
O que está em causa é a «coesão da zona euro». Países como Portugal, Grécia e Espanha (PIGS) "viram" recentemente o seu "rating" diminuído, devido, superficialmente, às suas dívidas externas e à actual instabilidade das finanças públicas e das suas economias. Ou seja, a grosso modo, estes países viram o "risco de não cumprimento do pagamento", tabelado nestes "ratings", aumentar, o que implica uma subida das taxas de juro implícitas ao empréstimo. O que, também, derivará numa maior dificuldade e despesa em obtenção de crédito nos mercados financeiros por parte do Estado e das empresas sediadas nestes países.
De facto, casos insólitos acontecem. Por exemplo, o Reino Unido, que possui uma dívida similar à da Espanha e com problemas mais sérios a nível do sistema bancário não tem o mesmo "risco tabelado" do que a Espanha. O caso dos EUA é o mais paradigmático desta situação. Vejamos, os EUA enfrentam um escalar da dívida externa (devido a imensos factores). Em 2008 a dívida externa dos EUA chegou ao (astronómico) valor de onze biliões de dólares, sendo considerada a "maior" dívida externa do Mundo, e "auferindo" um deficit estrondoso. Contudo, detêm uma classificação de topo (AAA) desde 1917. A Moody's (outra agência de rating) afirmou: "Se não forem feitas mudanças, em 10 anos, teremos que olhar seriamente se os Estados Unidos devem continuar sendo classificados como triplo A". Pois, Portugal, Grécia e Espanha não tiveram que esperar dez anos!
Uns afirmarão que em causa está a "confiança" (um sentimento muito importante no sistema económico vigente)e outros factores específicos de certos países para explicar a disparidade de "ratings" entre estes e outros paíeses. Outros, provavelmente, irão pôr em causa a idoneidade das agências de notação financeira (que tabelam o "rating"). Pois, estas agências, são parte do problema que originou a «crise actual».
De facto, é aqui que reside o verdadeiro problema, as agências de notação financeira -como a Standart&Poors (a principal)- possuem um "curriculum" de acontecimentos que em muito afecta qualquer tipo de confiança neste tipo de "avaliações". Em 2003 o regulador do mercado de capitais (Securities and Exchange Commission, SEC) dos EUA emitiu um relatório em que as conclusões "arrasaram" a credibilidade das agências de "rating". Concluiu-se que, estas agências, recebiam avultadas comissões pelas notações falsas atribuídas a alguns instrumentos financeiros (de alto risco) que em consequência enganaram milhões de investidores em troca do enriquecimento de outros.
De salientar os famosos casos de má notação tais como:
-o caso da Enron e da WorldCom (que tinham a notação AAA -a máxima- pouco tempo antes de falirem);
-Há dois anos, certas agências de "rating" atribuíam uma notação máxima (AAA, o máximo comum às três empresas) aos instrumentos financeiros (cujo o valor se baseia no preço de outros activos) chamados de "derivados" que financiaram o crédito "subprime" e que conduziram à crise que sente hoje;
-os "pareceres" dados à economia da Islândia (considerando-a como uma "economia forte" um dia antes da Islândia declarar-se na "bancarrota") e ao Lehman Brothers (em que consideraram como um banco financeiramente robusto quando já este tinha apresentado o pedido de falência às autoridades de Nova Iorque).
Portanto, o plano apresentado por Paul de Grauwe, da Universidade de Louvaina (Bélgica) para a compra de obrigações dos países europeus "desestabilizados" serviria (pois, não acredito que se materialize esta proposta) para minorar a injustiça e ajudar a estabilização da "zona euro". Porém, não ataca directamente uma das causas de «crise actual» (a falha das agências de "ratings").
21 fevereiro 2009
Paliativos económicos
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