07 março 2009

Adiar a mentira

Ontem, a maioria dos elementos do grupo parlamentar do partido socialista votou contra a um projecto de lei do Bloco de Esquerda, que previa a abolição das «taxas moderadoras» no Serviço Nacional de Saúde. Era algo espectável. A "maioria" socialista não iria assumir o erro (a introdução das «taxas») de um governo socialista anterior, não este partido socialista «seguidista» e «presunçoso». Para o vácuo foram os apelos de socialistas de renome, como Manuel Alegre e António Arnaut, fundador do Serviço Nacional de Saúde, que vêem estas «taxas» como algo anti-constitucional e não como algo promotor a um bom Serviço Nacional de Saúde (SNS). Contudo, José Junqueiro afiançou que o PS "recomendará" uma «avaliação global» das «taxas» para 2010. É um «modus operandi» similar ao utilizado com o tópico dos «casamentos homossexuais». Rejeita-se em plenário parlamentar, porém, abre-se uma "janela" de discussão (ou de acção) para depois da corrente legislatura.

Convém referir que o "pai" das famigeradas «taxas moderadoras» do SNS, Correia de Campos, escreveu no seu livro (em Setembro de 2008), que a «introdução das taxas moderadoras» serviu, não para moderar o acesso desmesurado e sem propósito ao SNS, mas, sim, para «preparar a opinião pública para uma alteração do financiamento do sistema». Ou seja, preparar-nos para a possibilidade do SNS sair dos suas premissas constitucionais (universal e gratuito) para um outro tipo de modelo de financiamento (privatização ou algo parecido), que derivará, eventualmente, num outro tipo de premissas para o serviço. É evidente a náusea causada por este tipo de política. As «taxas moderadoras» têm a sua génese numa ignóbil mentira que disfarça esta acção política. Invés, de reorganizar, corrigir, melhorar e estimular o serviço universalista e gratuito do SNS, tenta-se, paulatinamente, mudar um paradigma civilizacional dos nossos tempos, "alicia-se", indirectamente, a opinião pública com a possibilidade de mudar de modelo de financiamento (privatização ou algo parecido) do serviço. De facto, é mais fácil mudar o modelo de financiamento do sistema do que corrigi-lo. Como a vida nos mostra, a facilidade tem uma tendência quase natural para derivar em erro.

No país «progressista», brinca-se com direitos constitucionais e garantias adquiridas com o intuito de alimentar tácticas eleitorais e o superficial «orgulho» partidário. Se algo está mal, o primeiro passo é assumir o erro. Depois, progride-se para uma sã discussão e aí existe a possibilidade para a correcção ou minoração do erro. Não se mente e muito menos se ludibria. Este é um processo que vale como «axioma» na mais singela clínica de recuperação de dependentes. Talvez, o melhor é enviar os senhores governantes e afins para uma viagem educacional e introspectiva para este tipo de clínicas. Sempre estariam em contacto com, talvez apreendessem algumas, algumas técnicas de boa decisão e humildade.

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