19 janeiro 2010

Salários populistas

Algo que não é partilhado nas secretarias do Estado nem nos luxuriantes sofás de um punhado de seres engravatados é a seguinte constatação: Portugal possui dos salários (em média) mais baixos da Europa. Isto, como em tudo neste fátuo mundo, é relativo. A média salarial é baixa. Daqui, provém uma curiosa interrogação: se temos uma classe de seres (e afins) a auferir salários (e prémios) ao nível dos melhores salários europeus quem será que põe a média tão baixa? A resposta é evidente.

3 comentários:

  1. A estatística e as médias em particular podem servir para encobrir realidades bem mais delicadas que o facto de sermos dos que mais mal pagam na Europa. Senão vejamos: Se se pagam em média 7 euros por hora e em média se trabalham cerca de 1900 horas por ano, então em média cada portugues recebe 13.300 euros ano o que considerando 14 meses de remuneração se traduz, em média em 950 euros mês!!! É só olhar para o lado para ver que esta média absorve milhares e milhares que não recebem mais que 450 euros e esconde uns quantos que recebem chorudos salários. É a estatística...

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  2. Um novo pensamento @editorial i 20jan010
    Por Martim Avillez Figueiredo

    Para brincadeira de mau gosto, mas existe um professor em Singapura que está a olhar os problemas do mundo numa perspectiva asiática. E tem muito interesse

    A terrível situação que se vive no Haiti - e que se acompanha no Ocidente à distância - tornou-se, hoje, um problema de criminalidade. Já não é o terramoto que faz as notícias, mas as pilhagens e a violência nas ruas. O Ocidente - dos Estados Unidos da América à Europa - tem uma forma de lidar com essa violência: mandar forças armadas e pedir- -lhes que usem o bastão com a necessária violência.

    A ideia está certa - é preciso defender todos quantos em Port-au-Prince nada querem com crime e pilhagem. Mas o Ocidente, como sempre, está a procurar resolver um problema usando as ferramentas que conhece. Parece conversa fiada, mas é assunto que dá que pensar.

    Kishore Mahbubani é um conceituado professor de Políticas Públicas na Universidade de Singapura. O seu nome é respeitado da Índia à China pelas ideias modernas e asiáticas que defende. Não é contra o Ocidente: foi presidente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. O que Kishore não aceita é que os problemas do mundo sejam olhados apenas a partir desta perspectiva ocidental. No crime, por exemplo. Em Julho deste ano Kishore assinou um artigo no "Straits Times", de Singapura, procurando explicar por que razão a taxa de criminalidade é tão baixa nesta cidade-estado. Chegou a conclusões que parecem quase absurdas aplicadas ao Haiti - para ele, a razão da ausência de crime não é a polícia eficaz ou o Estado-força; é a ausência de pobreza desesperante. Sem ela não existe razão para roubar. Para que tudo se mantenha assim, Kishore está a pôr em marcha políticas públicas como esta: cada habitante com emprego e um bom salário de Singapura deve cuidar de um outro habitante sem emprego ou com baixo salário. Brincadeira?

    Kishore Mahbubani é um homem ouvido em toda a Ásia, e o seu texto mais influente (dos últimos meses) foi publicado este Novembro no americano New York Times. Ali ele explica como está enganado o Ocidente ao crer que a democracia liberal é o único sistema capaz de responder às exigências dos tempos modernos. Isto para dizer que Kishore não é ingénuo - é um intelectual asiático que usa outros ingredientes quando pensa os mesmos desafios com que se depara o Ocidente. Ou o Haiti.

    Para um europeu ou um americano, existem teorias de combate ao crime que defendem o importante papel de uma intervenção conjunta de forças de polícias de proximidade e de brigadas municipais de requalificação urbana. É a tese das janelas partidas, eficaz a limpar o crime de Nova Iorque. Kishore não a desdenha - mas gosta de olhar casos perdidos como o Haiti. Ou como a China pobre, antes de este capitalismo de Estado ter retirado milhões de pessoas da pobreza extrema.

    E aí usa Confúcio - esse mesmo que os ocidentais olham como o filósofo cor-de-rosa dos filmes de kung fu: para o mestre asiático, altruísmo, honradez e integridade eram fundadores em política pública. Olha que novidade! Kishore tem outra ideia para manter o crime baixo: todos devem apanhar o lixo nas ruas de Singapura. Cada um dos residentes - não as brigadas municipais. Pois, novidade. E se no Haiti se ouvisse Kishore?

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  3. Um ponto de vista certo e interessante.

    Algumas considerações:
    Nunca, jamais em tempo algum, vivemos (no conjunto da humanidade) com tanta riqueza e fartura. Contudo, há uma parte significativa da humanidade que luta e chora por fome e pobreza. Costumo afirmar que a sociedade actual pauta-se por futilidades e com um humanismo invertido. Num momento em que deveríamos, devido à supressão de certas condicionantes tais como a produção suficiente de alimentos e energia, focar o interesse da sociedade em ela mesmo, nos seus constituintes, deparamos-nos com uma sociedade hierarquiza e umbiguista.

    Factos:
    Por cada ano que passa (e aumentar) verificamos que a produção de alimentos (pelo menos aqueles que são contabilizados) dá para alimentar (neste mesmo ano) cerca de 13 mil milhões de seres. Somos seis mil milhões o que, a grosso modo, daria para cada ser humano o dobro da comida que precisaríamos para nos alimentar (saudavelmente, segundo a OMS) durante um ano. Contudo, o número de seres com fome aumentou em 2008 para o horrível número de 963 milhões.

    Existem diversos países que nos últimos 30 anos duplicaram o número de pessoas que vivem abaixo do limiar de pobreza.

    Os gastos militares no mundo em 2008 atingiram o valor de 3 biliões $ (biliões no sentido europeu, ou seja, 3 milhões de milhão).

    A ajuda mundial ao sector financeiro e aos bancos (muitos, culpados do descalabro actual) consubstanciou-se (Europa + EUA) no valor de 3 biliões $.

    No entanto, estes valores são 4 mil vezes inferiores às ajudas (actuais) ao Haiti e seria (segundo a ONU) preciso apenas um por cento deste valor para reduzir substancialmente a fome no mundo. Na totalidade, daria para suprimir a fome durante 100 anos.

    Imaginem todo este dinheiro gasto na ajuda ao sector financeiro e militar fosse empregue (após supressão de necessidades básicas de todos os seres) na ciência e na educação. Imaginem o salto qualitativo (tanto sociológico como tecnológico) que teríamos.

    Poderia estar aqui a discorrer mais factos incómodos. Não o farei, contudo gostaria que quem lesse estas palavras pensasse se este é o caminho certo para a nossa sociedade? Se o sistema actual (capitalista), que na realidade controla e hierarquiza tudo, económico, social etc. é, em si, um fim imutável e irremediável? Claro que não, o sistema actual não é um fim pela simples razão de provocar tudo aquilo que citei. É apenas um sistema criado pelo homem mas que agora o subverte.

    O futuro da humanidade passará por satisfazer todas as necessidades básicas dos seres (que consequentemente criará harmonia social e por fim a paz). Por conseguinte, o Homem (suprimido das necessidades básica e.g.alimentação, habitação, energia) apenas quererá a harmonia e paz, libertando-se de restrições sociais e económicas, e tendo, por fim, o tempo e a vontade de mudar o mundo...para melhor.

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