15 agosto 2008

Desequilíbrios viários

Num efémero e rápido retiro ao Alto Minho, algo com que a minha mente se confrontou, foi com a fabulosa A28. Ora, na ida e na vinda do dito retiro, nada como viajar por uma verdadeira auto-estrada, isto é, sem custo para o utilizador (directamente). Comparo, sem entrar em minudências estatísticas, o viver naquelas paragens. Bem mais turísticas (Viana do Castelo e Ponte de Lima verdadeiramente pontos quentes no turismo minhoto, bem mais do que auto-proclamada capital minhota, Braga, e o seus arrabaldes concelhios) acolhedoras, e tendo em conta a distância ao Atlântico como um sinónimo de melhor qualidade vida, peremptoriamente e num grosso modo, concluí que vive-se com mais qualidade lá nas altas terras do Minho.

De regresso cá ao burgo bastiano, a intenção era virmos o mais rápido possível. A famigerada Auto-estrada número 7, seria uma possibilidade de regressarmos confortavelmente e com alguma celeridade do Litoral a Cabeceiras de Basto. Contudo, os preços proibitivos para a maioria da população residente e não só, levou-nos a fazer um percurso alternativo à A7. Percurso, este, conhecidíssimo para quem de possidente tem, indigentemente, as singelas intenções. Para quem se desloca do Atlântico para cá, normalmente, e falando de indigentes similares, desloca-se, em solo prodigamente pavimentado com o melhor asfalto e derivados que têm as auto-estradas para oferecer, até Guimarães. Nós não seríamos uma excepção. Doravante, para o lindo e formoso concelho de Cabeceiras de Basto, repito, normalmente para indigentes similares e arcoenses, aproveitámos a fabulosa variante de ligação entre Guimarães-Fafe para depois continuarmos, herculeamente, na estrada nacional número 311 até à mui rejuvenescente (ou não) vila. Esta via evidencia-se gasta, ultrapassada, sem liftings viários marcantes, mas com uns reparos com algum anti-rugas de betume espesso, que teimosamente deixa a marca (da amargura que o tráfego intenso marca sem piedade) em irritantes e perigosas caixas de saneamento, centímetros acima da (des)nivelada estrada.

Tudo este discurso mirabolante e inconformado para comparáramos as vias do "desenvolvimento", que amistosamente se se intitula as auto-estradas, do Alto Minho com a Região de Basto. Provavelmente será portajada a A28. Desígnios superiores se impõem ou reestruturações no modo de cálculo e exploração na rede viária portuguesa. A nossa afamada autoestrada número 7, que possui(a) todos os critérios para ser contemplada com um concessão SCUT, vê-se cada dia que passa mais igual perante as outras "vizinhas" estradas. Sem dúvida, e sem querer menosprezar a luta para o não portajamento da A28, a nossa autoestrada está a frente, pelo menos com base nos critérios de atribuição de uma concessão SCUT, nas reivindicações. Podem descansar os cidadãos reivindicativos da concessão SCUT para a A28 que, infelizmente, não houve e não há reivindicação que se mostre perante esta injustiça, nas terras de Basto.

Contudo, gostaria de afirmar que não sou a favor das concessões SCUT. Um modelo SCUT, é sustentado com o dinheiro dos contribuintes, através dos impostos, que suporta o custo de construção, manutenção, exploração e financiamento da dito trajecto viário. Sendo incomportável a médio e a longo prazo. Mas ao existir este regime (que tende a acabar perdendo, eventualmente, a Região de Basto anos de benesse), que seja para beneficiar as regiões verdadeiramente necessitárias. Aquelas que, infelizmente, cumprem todos os requisitos para serem contempladas com este regime.

post scriptum O jornal regional, Ecos de Basto, no seu sítio na Internet, mostra-nos um inquérito que questiona, ao ilustre visitante, se acha que o preço praticado nas portagens A7 em que liga Cabeceiras de Basto a outras localidades é exagerado. O resultado não poderia ser mais expressivo e indicador: 95% dos visitantes que votaram, isto é 479 votos, afirmaram, através do voto, que é exagerado o preço praticado nas portagens da A7.

2 comentários:

  1. como tenho manifestado, nao sou apologista das vias como principais motores de desenvolvimento das regioes, mas
    vejo que por vezes elas chegam só para servir as auto-estradas privadas. Nunca se tinha feito uma obra de recuperação da estrada N210 ate a dita auto-estrada ter chegado, depois ai sim, fez-se tudo e mais alguma coisa. Em Guimarães assistiu-se a uma subtracção de vias porque a auto-estrada ia perder! Mas a a que interesses temos que obedecer? Aos públicos! Que deveriam proteger as pessoas, ou aos privados que protegem as carteiras chorudas dos magnatas, tristes por descerem uns pontinhos no ranking dos 100 mais ricos?estaremos a presenciar um ciclo de interesses?

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  2. Também não sou apologista das vias rodoviárias como ponto principal de desenvolvimento. Acredito, pois, que uma boa comunicabilidade das vias de uma localidade seja um valor acrescentado para esta.

    Contudo, as auto-estradas e o negócio envolvente é deveras peculiar. Cerca de 55% das auto-estradas com concessão SCUT, têm, indevidamente, esta concessão. Mas como vivemos num Mundo extremamente peculiar, acontece que o "bolo" não pode sustentar tudo e todos. O que equivale, a que Regiões, como a nossa, que deveriam possuir uma concessão SCUT não a tem. Possivelmente, o simples facto de ser trespassada por uma auto estrada seja uma vitória "tão grande" que não pensemos sequer em reivindicar outras exigências (mesmo com o direito de equidade).

    O que se passa, e isto a nível nacional, que existe uma exagerada proeminência do sector rodoviário em Portugal. Veja-se, também, o centralismo no sector das vias rodoviárias, Lisboa, capital "central" deste heterogéneo país, tem a maior densidade de quilómetros de autoestrada por habitante, superando Londres,Madrid, Moscovo etc. E depois visualizámos as dificuldades em criar (a desculpa é a falta de dinheiro e de pertinência) infra-estruturas rodoviárias em Trás-dos-Montes.

    Gasta-se milhões e milhões de euros em estradas, para que, ou por directivas europeias ou por um qualquer desvario governamental, se entregue quase por "tuta e meia" o património público. Quase sempre a favorecer o comprador, nestes casos, a "elite" empresarial portuguesa.

    Caro, C. Leite, se formos a discutir a promiscuidade das obras públicas, investimentos públicos, e tudo que envolva as grandiosas mentes empresariais e os seus assessores governamentais, estaríamos para aqui um serão inteiro só a descrever situações. Mas a isso, culpo, invariavelmente, os "culpados" (em meias palavras: público e privado) e quem, no voto, aposta na continuidade. A necessidade de mudança é evidente mas para isso é preciso, por vezes, coragem e um pouco de loucura.

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