23 julho 2008

'Farmainteresse'

A industria farmacêutica, com os seus jogos de influência e processos de monopolização, são um dos mais perniciosos e influentes aglomerados de interesses. É algo pertencente ao senso comum. Demonstram, implicitamente, a capacidade que têm, os grandes grupos económicos, na intervenção nas políticas intra e extra-estatais, numa sociedade globalizada. Sempre que existe alguma ameaça na perda de influência, de posição de mercado ou de lucro, estas, aplicam o seu longo currículo de perturbação no mercado.

Em Portugal, relativamente aos medicamentos genéricos e à sua implementação no mercado farmacêutico, é deveras característico. Somos o país onde os medicamentos genéricos são os mais caros da Europa e onde possui a particularidade de o único país europeu onde o valor em que a quota de mercado de genéricos é maior em dinheiro do que em quantidade de embalagens comercializadas.

A sua influência é deveras evidente na classe médica e farmacêutica. A conhecida promiscuidade entre a industria farmacêutica, a classe médica e a classe farmacêutica, induz num conflito de interesses que negligência continuamente o cidadão. O próprio "sindicalista" da classe, o bastonário da Ordem dos Médicos, Pedro Nunes, ex-libris do corporativismo danoso em Portugal, afirmava, e provavelmente afirma, que (...)defende que os médicos não devem autorizar a substituição por genéricos, considerando que os três por cento que o fazem já "são demais"(palavras ditas em 2005). Com este tipo de "mentalidade" profissional, torna-se usual a extrema facilidade e impunidade com que os profissionais (médicos e farmacêuticos) violam a lei dos genéricos, ao receitarem e fornecerem ilegalmente medicamentos por marca comercial.

Estas situações são sintomáticas dos corporativismos que minam Portugal e os portugueses. A indústria farmacêutica nunca para, o seu jogo é contínuo e ignóbil. Recentemente, mostram a sua mentalidade empresarial ao utilizarem instrumentos judiciais para atrasarem o lançamento no mercado de 70 novos medicamentos genéricos. O objectivo, já que acção judicial em falta de conteúdo de prova, visa, unicamente, o atraso da comercialização dos medicamentos genéricos, "ganhando" tempo para assim o lobby rentabilizar os seus produtos. O Estado, como entidade que visa proteger os seus interesses e dos seus cidadãos, deveria actuar. Copiar a atitude de outros países, mais reivindicativos e protectores dos seus interesses e cidadãos, em relação a estas vis atitudes comerciais. Poderia, seguir o exemplo de 18 Estados norte-americanos que processaram uma farmacêutica por tentar travar a comercialização de um medicamento genérico. Uma maior intervenção estatal de responsabilização e penalização de atitudes reprováveis nesta rede de interesses, é necessária, já que o sistema judicial (o verdadeiro problema português) está como está.

2 comentários:

  1. É um lobby fortíssimo e com implicações dramáticas...A propósito lembrei-me do filme " O Fiel Jardineiro" que tem uma abordagem interessante sobre esta questão...
    Penso que não podemos colocar sobre o sistema judicial o ónus de resolução de todos os problemas.A solução, na realidade, como dizes e bem, passa por uma intervenção estatal rigorosa e séria que salvaguarde os interesses dos cidadãos em lugar de insistir em acautelar os poderes instalados.É lamentável que um bastonário faça esse discurso que é deontologicamente contrário aos valores basilares que devem reger o exercício da profissão.Uma lógica mercantilista na saúde é tudo o que não pode acontecer.Infelizmente as políticas governativas pautam-se por estatísticas em vez de irem de encontro às necessidades das pessoas..Quanto a cumprirem programa de Governo está bom de ver que estão com crises de amnésia!

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  2. O filme, vi, a ficção dura e crua das influências da indústria farmaceutica e as suas implicações na vida política e social dos países em "experimentação" e "depositários" de medicamentos, assemelha-se muito à realidade.

    Considero o "problema da justiça" o maior flagelo e atentado ao País e o Estado de direito, que Portugal vive. É necessário medidas, mas falta a vontade e coragem política e o corporativismo impera.

    Quanto ao bastonário em questão, este senhor, como dizes, desrespeita aquilo para que foi eleito (pelo menos estatutariamente). Não é por nada que continua o seu "bom" trabalho em detrimento dos cidadãos. Assemelha-se mais a um sindicalista de que um bastonário. Enfim, mais unm, senão o mais visível, corporativista descarado deste País.

    Não poderia também de deixar de culpar, uma parte, a nós cidadãos por sermos, orgulhosamente, enganados e termos, pelo menos superficialmente, uma noção disso. Mas continuamos a votar em tais "descalabros" e no continuar destas políticas de "estatística" invés de enveredarmos por outras alternativas.

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