03 dezembro 2009

Apenas mais um som de uma triste canção

Banco Nacional Português (BPN). É este o nome do drama financeiro que anima jornais e incomoda o comum português. Este banco teve um início fulgurante. Era, como outros que ainda estão financeiramente em pé, um banco politizado. Em rigor, falsamente politizado: porque desde do corpo directivo aos accionistas, muitos partilhavam a militância e a simpatia pelo Partido Social-Democrata mas aquilo que realmente comungavam, como muitos no ramo, era o gosto cego pelo dinheiro. Passado alguns anos, este banco de aparente sucesso, revelou a sua verdadeira identidade: um instrumento económico para o enriquecimento de quem (e associados) o dirigia.

Neste passo, o nosso Banco de Portugal (BdP) tem um papel determinante. O regulador do nosso sistema financeiro deu um novo significado à tolerância e a permissividade no sistema. Indirectamente, pela sua não actuação e desleixo fiscalizador, o BdP permitiu que a burla financeira em que o BPN se tornou, tomasse o titânico tamanho que hoje corrói os jornais e os cidadãos.

Após o polémico processo de nacionalização (argumento-mor fora a ameaça do colapso do sistema) do então sexto banco português, a injecção de dinheiro público começou. O que se viu e o que se vê, foi a substituição das obrigações dos accionistas pelo dinheiro público, ou seja, a nacionalização dos prejuízos e dos roubos do BPN permitiu que o corpo accionista fosse absolvido de pagar os erros e os prejuízos da empresa que eram proprietários. Salvou-se, por enquanto, o dinheiro do Estado, o dinheiro dos clientes e os postos de trabalho. Porém, até ao momento estima-se que a Caixa Geral de Depósitos (CGD) "injectou" cerca de quatro mil milhões de euros para resolver os mínimos problemas para que o BPN continue a "funcionar".

Na consequência de uma futura resolução, o dinheiro até agora investido poderá não ser coberto por um futuro comprador, ou seja, na reprivatização do BPN poderemos conhecer o custo da nacionalização. No entanto, há um rumor sobre quem serão os interessados na retoma do BPN: o lobby angolano, desejoso em "limpar" o dinheiro escamoteado dos cofres públicos de Angola, poderá ter nesta reprivatização mais uma oportunidade de "investimento". Portugal, é um bom sítio para este tipo de operações financeiras. As relações luso-angolanas são próximas e, neste tipo de sistema financeiro, as palavras como e origem são irrelevantes nos processos de "capitalização" que promovem as hipócritas relações internacionais.

Por conseguinte, existe um processo judicial em curso. Entre algumas diligências, corre normalmente o processo judicial neste moribundo sistema judicial. No entanto, já há um valor estimado para os crimes efectuados pela cúpula do BPN e SLN: nove mil e setecentos milhões de euros. É este o valor astronómico, apontado pelo Ministério Público, que consubstancia a hecatombe financeira do BPN. No entanto, não vejo, não ouço quaisquer acções e palavras que possam questionar ou resolver onde se encontra este valor monetário. Conhecemos o trajecto (via offshores). O passo imediatamente seguinte é conhecermos onde pára e com quem está todo este dinheiro. Contudo, isto é uma questão que está a ser desprezada.

Os culpados estão há muito identificados: nós, permissivo e masoquista povo, o sistema financeiro (a existência de offshores, a falta de regulação e, quando a há, a sua não aplicação), políticos e governantes (embora peca pela generalização eles mantêm esta pouca vergonha e muitos são activos participantes) e a essência disto tudo: o capitalismo. Podemos procurar o que quisermos, se não fosse pelos pecados do capitalismo (o dinheiro e a ganância) este caso (e outros como tais) não aconteceria. Um axioma, dir-me-ão.

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