09 fevereiro 2009

Dar azo ao fundamentalismo

«A Iberdrola vai construir, entre 2012 e 2018, quatro novas barragens que completam o desenvolvimento hidroeléctrico da Bacia do Douro. Segundo informação distribuída por aquela empresa o investimento rondará 1.700 milhões de euros e prevê a criação de 13.500 novos postos de trabalho directos e indirectos.» in [Ecos de Basto]

É comum na estratégia das empresas produtoras de energia, "lançarem" notícias propagandistas para captar a adesão da população (das áreas abrangidas pela implementação dos seus empreendimentos hidroeléctricos). Neste caso, não ponho em causa a veracidade dos números. Contudo, para um melhor esclarecimento deveriam afirmar o quão efémero é a criação de emprego neste empreendimento. Ou seja, estes 13.500 postos de trabalho são postos de trabalho "criados" na construção do empreendimento (engenheiros,trabalhadores da construção civil etc.), pois, actualmente, a maioria das barragens funciona com um ou nenhum funcionário (são operadas à distância).

Será que estas barragens criarão emprego no âmbito do Turismo? Não, à partida, pois o país está repleto de "albufeiras" desertas em que se "venderam" a ideia de que as barragens (e as consequentes albufeiras) impulsionariam o turismo.

Findada a construção, os postos de trabalho "a criar" desaparecerão tão rápido como brotaram de notícias para "instrumentalizar as populações" e assim ficaremos com estes "mamarrachos" como símbolos de tão apregoado desenvolvimento.

«O Plano Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroeléctrico prevê ainda a construção de mais seis barragens que virão a reduzir substancialmente a dependência energética do país, para além de contribuírem decisivamente para a redução de emissão de CO2 para a atmosfera.» in [Ecos de Basto]

Mais uma ideia "vendida" para a "instrumentalização da população". Existem estudos académicos que provam que as barragens constituem uma importante fonte de poluição aquífera e atmosférica. Segundo Rui Cortes, professor de Hidrobiologia da UTAD, neste caso (Vale do Tâmega) as barragens a implementar irão destacar a «acumulação de poluição nas albufeiras, responsável pela libertação de metano, um dos principais gases com efeito estufa».

Curiosamente, não se destaca a qualidade da água no Vale do Tâmega ao construírem cinco barragens (62,5 por cento de todas as barragens previstas no plano nacional de barragens), nem a alteração no microclima característico do Vale do Tâmega (que poderá influenciar a produção de vinho verde por consequência da acumulação de uma gigantesca quantidade de água neste vale) e muito menos a velocidade estonteante que este projecto (o plano nacional de barragens) está a ter. Mas, isto são apenas lamentações de um fundamentalista que só vê defeitos mas está numa contínua espera para que o peso dos pratos da balança (dos prós e contras) reverta.

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